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quarta-feira, 6 de junho de 2012

crônica dos céus

Crônica dos Céus

"Nos péchés sont têtus, nos repentirs sont lâches
Fiéis ao pecado, a contrição nos amordaça"
(Ao Leitor, in As Flores do Mal, Charles Baudelaire)

Ontem, depois de tentar ler reportagem de capa de revista semanal, 'Mudança de Hábito', de padres que cantam, me lembrei dos idos dos anos 68, em que participei de grupo de jovens da igreja Perpétuo Socorro, em Pinheiros.

O padre Carlos, que nos orientava, era de uma abertura além do momento em que estávamos: introduziu na missa violão, grupo de jovens... Cantávamos com grande louvor "Jesus Cristo/ eu estou aqui..." Quem diria... hemmmmm... Culto e inteligente, pronto para qualquer desafio, sabe daquelas pessoas que não se perde nada? Tudo que fala é interessante? Ele era assim, e até arriscava cantar com a gente...

Nosso grupo de jovens, entre muitas coisas, nos trazia a famosa paquera; tinha gente do Fernão e da redondeza. Dos meninos, tinha de tudo, o de olhos azuis que nos levava ao céu, o que falava demais, que deixava todo mundo tonto, o quietinho mas observador, o amigão, aquele que a gente contava tudo... Deve estar ouvindo confidência até hoje (risos)... Tinha o que fugia para fumar e voltava discretíssimo com cheiro de bala de hortelã 'Confiança'. O culto, acho que ele decorava a Barsa e falava o tempo todo sobre aquele assunto, o que tocava violão, ah... Este tinha a paquera garantida. Sei que a gente se divertia, e ainda sabíamos o significado de todos passos da missa, a luz no altar, o que era hóstia, porque senta, ajoelha etc... E o Evangelho? Viajávamos com padre Carlos para dentro daquele grosso livro cheio de fitas e cor de coisa antiga.

Naquela época, havia o confessionário, ajoelhávamos e discorríamos nossos segredos: cabulei aula, namorei escondido, peguei o lápis da colega, odiei minha mãe etc... Aí, ele nos dava uma fórmula mágica... 10 ave-marias, 10 pai-nossos, dentro daquela moderna igreja contrastando com escuros e pesados bancos de madeira, nos ajoelhávamos e rezávamos, por mágica os pecados sumiam e ficávamos felizes, prontos para os próximos pecados, lógico...

Hoje, pensei como seria esta confissão: padre, pequei, penso no senhor cantando só para mim todo dia. Gente,como ele iria dar a receita mágica, se ele é o próprio agente do pecado (risos)?

Cá para nós, prefiro ir assistir ao Chico Buarque e achar que ele faz o show todo olhando e cantando só para mim... Doce ilusão!

Passei por várias religiões, igrejas, seitas, iniciações, rituais; conheci muitos dirigentes e gurus, algumas filosofias, de cada um desses tirei um retalho, montei minha colcha: quando preciso, me envolvo nela e me aqueço.

Lembro com entusiasmo dos grupos, dos projetos e das nossas abençoadas manhãs de domingo.

Amém... Que Deus nos ajude!